Associação entre práticas de alimentação infantil, fatores cognitivos relacionados à COVID-19 e depressão pós-parto durante a pandemia de COVID-19: um estudo transversal online na Tailândia
Autores: Wichukorn Suriyawongpaisal, Punpawee Kittikul, Eun Young Lee, Li-Yin Chien, Yan-Shing Chang, Kelly Pereira Coca, Doungjai Buntup, Seo Ah Hong
A depressão pós-parto (DPP) inclui sintomas como perda de interesse em atividades diárias, ansiedade, aumento de pensamentos negativos, tristeza, medo de não conseguir cuidar adequadamente do bebê e, em casos graves, pensamentos de autolesão ou de machucar o bebê. A COVID-19 teve um grande impacto na saúde e no bem-estar em todo o mundo. As medidas tomadas em relação à COVID-19 podem ter afetado as interações sociais e atividades diárias da população em geral, o que pode contribuir para o aparecimento da depressão. Diversos estudos relataram aumento na prevalência de DPP como resultado da pandemia, sendo nos países em desenvolvimento as maiores taxas. Estudos mostraram a relação entre o conhecimento e as crenças em relação à COVID-19, práticas alimentares dos bebês e a ocorrência de DPP. Muitos estudos mostraram que mães com depressão têm maior probabilidade de alimentar seus bebês com fórmula ou outros alimentos, em vez de leite materno. Mães com pouco conhecimento sobre a COVID-19 podem deixar de amamentar exclusivamente e recorrer a métodos como leite materno extraído ou fórmula.
Um estudo realizado na Tailândia analisou a associação entre fatores cognitivos (conhecimentos e atitudes) relacionados à COVID-19, práticas de alimentação infantil e DPP durante a pandemia entre mulheres no pós-parto no país.
840 mulheres puérperas foram incluídas no estudo, que consistiu em responder um questionário contendo três partes: uma de avaliação de sintomas de DPP, uma de avaliação da alimentação infantil e uma de avaliação dos conhecimentos e atitudes sobre COVID-19 envolvendo perguntas sobre conhecimento acerca da doença, atitude frente a ela e crenças sobre vacinação contra COVID-19. Foram analisados também os fatores socioeconômicos dessas mães, incluindo segurança alimentar.
Resultados:
38,7% das participantes relataram insegurança alimentar, 17,1% relataram piora na segurança alimentar, o restante (44,2%) relatou segurança alimentar.
A média de idade dos bebês era 3 meses, sendo a maioria nascida com peso adequado e o primeiro filho da mulher. 18,6% das participantes relataram problemas durante o pré-natal, parto ou pós-parto.
A pesquisa analisou o recordatório das 24h antecedentes à resposta ao formulário. 76,1% das mães amamentaram diretamente no peito, 40,5% ofereceram leite materno extraído, 31,4% utilizaram fórmula infantil e 5,2% introduziram alimentos sólidos, semi-sólidos ou pastosos. A maior parte relatou que a COVID-19 não influenciou no tempo de amamentação. Uma menor parte relatou que amamentou por menos ou mais tempo do que pretendia.
Em relação à depressão pós parto, a escala aplicada revelou que cerca de um terço das mulheres apresentavam risco de DPP. As taxas de DPP estavam relacionadas com atitudes negativas ou moderadas em relação à COVID-19, crenças negativas sobre a vacina, insegurança alimentar, gestação não planejada e problemas de saúde no período perinatal.
A maior parte das mulheres não acreditavam que a vacina contra COVID-19 fosse segura ou estava indecisa. Mãe que ofereciam leite materno extraído tinham crenças mais positivas em relação a amamentação e vacinação, enquanto mãe que ofereciam fórmula ou outro tipo de alimentos possuíam crenças mais negativas.
Outros estudos também relataram que atitudes negativas em relação à COVID-19 estavam associadas ao consumo de informações incorretas ou não confiáveis, o que pode aumentar a ansiedade das mães e dificultar a tomada de decisões apropriadas para cuidar do bebê.
O estudo mostrou que mães que ofereciam alimentos sólidos, semi-sólidos ou pastosos aos bebês tinham maiores chances de desenvolver DPP. O isolamento das mães após o parto e retorno precoce ao trabalho afetaram negativamente o aleitamento materno. Com o aumento dos preços dos alimentos e a escassez de fórmulas, muitas mães passaram a utilizar alimentos mais baratos, o que pode explicar o aumento da DPP entre essas mulheres.
Esses achados sugerem que oferecer orientações adequadas às mães no pós-parto, especialmente sobre a prevenção e o controle de doenças como a COVID-19, além de orientações sobre a alimentação infantil adequada, pode contribuir para a melhoria da saúde mental das mães.
REFERÊNCIA:
Suriyawongpaisal W, Kittikul P, Lee EY, Chien LY, Chang YS, Coca KP, Buntup D, Hong SA. Association between infant feeding practices, COVID-19 related cognitive factors, and postpartum depression during the COVID-19 pandemic: a cross-sectional online study in Thailand. BMC Public Health. 2025 Apr 11;25(1):1366. doi: 10.1186/s12889-025-22672-w. PMID: 40217186; PMCID: PMC11987166.